O termo alta-costura muitas vezes é usado sem que se saiba seu verdadeiro significado. Para que uma peça seja, de fato, haute couture, não basta ela ser produzida na França, ela deve ser inteiramente desenvolvida em Paris. Além disso, deve ser feita especialmente para um cliente, de acordo com suas medidas pessoais, utilizando materiais nobres e as mais apuradas técnicas manuais de costura e bordado.
Na França, o termo haute couture é protegido por lei, só pode dizer que produz alta-costura a grife que cumpre todas as regras e que é aceita pela rígida Câmara Sindical da Alta-Costura. Também é preciso ter um ateliê que empregue pelo menos quinze pessoas e mostrar uma coleção de no mínimo 35 looks a cada temporada. A lista de maisons é atualizada e fiscalizada a cada ano por uma comissão do Ministério da Indústria.
Mas o que faz um cliente pagar quantias que chegam a ultrapassar 100 mil dólares por apenas um vestido? Além da exclusividade de ter uma peça única, essas peças chegam a demandar mais de 400 horas de trabalho. A mão de obra é altamente especializada, sendo que muitos dos bordados de grandes grifes, como Chanel e Dior, são realizados pela tradicional casa Lesage, fundada em 1922 por Albert Lesage.
Maisons de alta-costura
Lista oficial das maisons de alta-costura em 2012:
Membros permanentes
- Adeline André, desde 1997, quando estreou como "membro convidado", embora não tenha desfilado no verão de 2007
- Atelier Gustavolins,
- Chanel
- Christian Dior
- Christophe Josse, membro convidado a partir de 2007, antes de se tornar membro permanente.
- Franck Sorbier
- Giambattista Valli
- Givenchy (abandonou a alta-costura após o desfile de janeiro de 2010, retornando algum tempo depois)
- Jean Paul Gaultier
- Maurizio Galante desde janeiro de 2008.
- Stéphane Rolland
Membros correspondentes
- Versace, com a linha Versace Atelier, retornou à alta-costura desde o início de 2012
- Elie Saab
- Giorgio Armani (com a linha Armani Privé)
- Maison Martin Margiela (para sua linha artesanal)
- Valentino
Membros convidados
Esta categoria existe desde 1998, para lançar novas marcas francesas e estrangeiras de luxo.
- Alexandre Vauthier (desde janeiro de 2011)
- Alexis Mabille (membro convidado desde julho de 2007)
- Bouchra Jarrar anteriormente ligado a Balenciaga, depois a Lacroix (membro convidado desde 2010)
- Iris Van Herpen (membro convidado desde julho de 2011)
- Julien Fournié (membro convidado desde janeiro de 2011)
- Maison Rabih Kayrouz (membro convidado desde julho de 2008)
- Yiqing Yin (membro convidado desde janeiro de 2012)
- Joalheria
- Boucheron
- Chanel Joaillerie
- Chaumet
- Dior Joaillerie
- Van Cleef & Arpels
Acessórios
On Aura Tout Vu, maison de accessórios (joias) e costura, de Yassen Samouilov e Livia Stoianova, que desfila durante a Semana da Alta-Costura em Paris. Membro convidado desde julho de 2004.
LUXO NO FINAL DA GUERRA
Em 1939, existiam setenta casas registradas em Paris, incluindo grandes estabelecimentos como Chanel, Elsa Schiaparelli e Balenciaga. A indústria sofreu muito durante a Segunda Guerra Mundial e com a ocupação de Paris pelas tropas alemãs, que fechou as portas de diversas maisons e fez as vendas internacionais quase desaparecerem. (Masions são os estilistas)
Os alemães chegaram, inclusive, a planejar a “mudança” do mundo da alta-costura para Berlim, porém Lucien Lelong, então presidente da Câmara Sindical da Alta-Costura, bateu o pé e saiu vitorioso: “É em Paris ou não será em lugar nenhum”.
Passada a guerra, no dia 12 de fevereiro de 1947, Christian Dior abriu as portas de sua maison. Sua coleção era a antítese da rígida moda dos tempos de confronto. Os modelos com cintura marcada e saias volumosas foram batizados por Carmel Snow, então editor da revista americana Harper’s Bazaar, como New Look.
A quantidade de tecido necessária para se produzir um vestido no estilo New Look causou revolta em Londres, onde as regras de racionamento da época de guerra ainda eram válidas em 1947. A coleção foi apresentada secretamente à Rainha Elizabeth e a outros membros da realeza britânica na embaixada francesa em Londres. Embora inicialmente condenado pelo British Board of Trade, órgão de comércio do Reino Unido, o New Look e a alta-costura acabaram ganhando popularidade, especialmente depois que a Princesa Margaret aderiu à moda. O sucesso internacional foi tamanho que em 1949 somente a Dior era responsável por 5% do valor das exportações francesas.
Vestidos Charles Frederick Worth, 1887. REPRODUÇÃO/METROPOLITAN MUSEUM OF ART NEW YORK |
A CHEGADA DO READY-TO-WEAR
Com o tempo, pequenas lojas no térreo dos ateliês de alta-costura ficaram cada vez mais comuns. Elas vendiam cosméticos, perfumes, joias, malhas e acessórios fabricados pelas maisons. Em 1966, Yves Saint Laurent separou os dois mundos. O estilista abriu sua primeira butique de ready-to-wear, seguindo a nova tendência de consumo rápido que impera até hoje.
Atualmente, poucas grifes são consideradas membros da Câmara Sindical da Alta-Costura: Chanel, Christian Dior, Givenchy e Jean Paul Gaultier são as mais famosas. Além disso, existem os membros convidados a desfilar, como Alexis Mabille, Giambattista Valli e Iris Van Herpen. Há também os membros representantes, que participam da semana de moda “representando” a alta-costura de outros países. São eles: Giorgio Armani Privé, Elie Saab e Valentino.
Mas com preços nas alturas e uma lista de clientes restrita a poucas centenas de milionários, como as casas de alta-costura se sustentam? Mais do que gerar lucro, os desfiles couture servem para promover a imagem da grife e seus outros produtos. “A primeira fonte de renda de uma maison são seus perfumes. Em segundo lugar, vem a linha de cosméticos. Em seguida, os acessórios. Depois vem a linha de prêt-à-porter e só depois o lucro das peças de alta-costura”, explica o professor e historiador de moda João Braga.
Vestido Jacques Fath, 1948. REPRODUÇÃO/VICTORIA & ALBERT MUSEUM |
Vestido Jean Dessès, 1953. REPRODUÇÃO/VICTORIA & ALBERT MUSEUM |
IMPORTÂNCIA DA ALTA-COSTURA
Grande parte das inovações e extravagâncias dos desfiles de alta-costura nunca chegará a ser usada, tendo como destino os arquivos das maisons. Mais do que apresentar roupas para serem vestidas, as semanas de alta-costura servem como ricas fontes de ideias. “Alta-costura é a parte mais elevada do prêt-à-porter. É um trabalho da grife que deseja preservar seu savoir faire”, explica Didier Grumbach, atual presidente da Câmara Sindical da Alta-Costura. “Alta-costura se transformou em um laboratório que confere importância e novas ideias ao calendário da moda”, completa Grumbach.
Gustavo Lins, único brasileiro a constar atualmente como membro da Câmara Sindical da Alta-Costura, é da mesma opinião. “A alta-costura é um grande laboratório de formas, sensações e códigos. Ela serve para alimentar a industria da moda com ideiais e imagens fortes. É uma locomotiva que puxa vários vagões”, explica.
Apesar de ter que obrigatoriamente ser produzida em Paris, a alta-costura não precisa ser feita por franceses. Gustavo não é o único estrangeiro nesse luxuoso universo: o alemão Karl Lagerfeld é o responsável pelas criações da maison Chanel e o italiano Riccardo Tisci, pela Givenchy. “A alta-costura é cosmopolita e gosta de pessoas de toda parte do planeta, desde que tenham talento e algo a dizer de diferente”, afirma o estilista brasileiro.
Alexis Mabille, verão 2011. FOTOSITE |
fonte: http://modaspot.abril.com.br/cultura-fashion/a-historia-da-alta-costura
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